“Um arquivo perde completamente o sentido quando é uma caixa preta chaveada”, diz a arquivista do Departamento de Arquivo Geral (DAG) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Cristina Strohschoen dos Santos. Para muitas pessoas, quando se fala em arquivo logo se pensa em pilhas de pastas e papéis, ou ainda, o “arquivo morto”, em uma sala escura e fechada. Na 7ª Semana Nacional de Arquivos, eventos promovidos pela UFSM querem mudar essa percepção e ressaltar a importância e a necessidade de preservação de acervos que ajudam a contar a nossa história.
Arquivos são instituições responsáveis pela preservação, guarda, acesso e difusão de vários tipos de registros de diferentes épocas. Essas ações estratégicas são desempenhadas por pessoas que, no exercício de seus ofícios, contribuem cotidianamente para que a relevância do vivido no passado siga ativa no presente e no futuro.
A Semana Nacional de Arquivos, tradicionalmente, tem como referência o 9 de junho, Dia Internacional dos Arquivos, assim proclamado na Assembleia Geral do Conselho Internacional de Arquivos, em 2007. Em 2023, este Conselho completará 75 anos de existência, sendo o tema da Semana Internacional de Arquivos. À luz dessa inspiração, a edição brasileira adota o tema Arquivos - Territórios de Vidas, no intuito de fortalecer perspectivas e demandas sobre o fazer arquivístico que têm ganhado relevância no Brasil.
– O objetivo de ações que ocorrem, sobretudo nessa semana, na verdade, é que a comunidade saiba da existência desses acervos e para que eles sejam usados nas pesquisas e em qualquer atividade da população – fala Cristina.
O Departamento de Arquivo Geral da UFSM tem um acervo de negativos fotográficos de 85 mil unidades de fotos de 1958 a 2002, que estão sendo digitalizados e colocados em uma plataforma virtual para que pesquisadores tenham acesso. Algumas dessas fotos ilustram a essa matéria. Além disso, tem um rico acervo sonoro e audiovisual, com muitas informações, histórias e, sobretudo, memória.
SEMINÁRIO
No contexto da importância do acervo audiovisual da UFSM para a história santa-mariense e como patrimônio documental, e para integrar a programação da 7ª Semana Nacional de Arquivos, o Departamento de Arquivo Geral e a Pró-Reitoria de Extensão promovem o Seminário Fotogramas da Memória Audiovisual da UFSM. O evento ocorre no dia 6 de junho, às 8h, no auditório do Centro de Ciencias Sociais e Humanas (CCSH) da UFSM, no prédio 74C.
Integram atualmente o Arquivo Permanente do DAG mais de 100 filmes 16mm produzidos pela TV Educativa, mais de 600 fitas VHS com programas produzidos pela TV Campus, além de fitas VHS com eventos e projetos da Pró-Reitoria de Extensão, Centro de Educação e Centro de Educação Física. Acervo audiovisual este que é fonte de pesquisa não só para as áreas de Arquivologia, História e Comunicação Social da universidade, mas para todas as áreas; além de constituir-se em importante fonte documental para exposições e datas comemorativas de unidades da instituição.
A jornalista, especialista em Cinema e doutora em Comunicação Marilice Daronco será uma das palestrantes do Seminário Fotogramas da Memória Audiovisual da UFSM. Para ela, Santa Maria tem uma produção audiovisual muito relevante, e quando se passa a conhecer algo, as chances de respeitar, valorizar e preservar isso é muito maior.
– Não só como jornalista e pesquisadora, mas também como integrante da Fundação Eny, tenho percebido que diferentes pessoas e grupos têm buscado caminhos para recuperarmos essas nossas realizações que por muito tempo estiveram esquecidas. Ver os filmes sendo restaurados, os realizadores ganhando o destaque que merecem e as pessoas descobrindo o nosso audiovisual é incrível.
Marilice é autora do livro Milímetros da História, de 2020, resultado de sua dissertação de Mestrado em Comunicação na UFSM, quando foi orientada pelo professor Cássio Tomaim.
– Ele foi publicado, graças ao apoio da Fundação Eny, com o objetivo de que o maior número de pessoas pudesse conhecer as realizações feitas por aqui em 16mm, uma bitola amadora que possibilitou, por exemplo, que a UFSM tivesse um circuito fechado de TV no curso de Medicina, que foi pioneiro nos anos de 1950. São pesquisas com documentos, livros e com entrevistas de história oral sobre aquele período e sobre quem fazia cinema naquela época na cidade.
O objetivo do seminário é, justamente, proporcionar um debate acerca dos acervos audiovisuais produzidos na UFSM e Santa Maria, com ênfase na necessidade de uma instituição responsável pela preservação, guarda, acesso e difusão destes registros documentais, que são também registros de vidas de diferentes épocas. Marilice Daronco irá conduzir na compreensão de como iniciou essa produção cinematográfica em um município do interior do Sul do país e da inexistência de escritos sobre as produções santa-marienses nos anos 1960 nos livros que fazem a historiografia do cinema gaúcho.
Serão discutidas as primeiras contribuições para a experiência audiovisual na cidade: o Cinejornal Aurora de Sioma Breitman, os filmes A Ilha Misteriosa, de José Feijó Caneda; e A Vida do Solo, de Ana Primavesi, Orion Mello e Joel Cambraia Saldanha, o primeiro documentário educacional de animação da América Latina. Na sequência, o acervo de filmes 16mm da TV Educativa, com a produção do Estúdio 21 da Faculdade de Comunicação (Facos), e o acervo de fitas VHS com programas da TV Campus.
Marilice Daronco adianta que o seminário Fotogramas da Memória Audiovisual da UFSM será um momento de grandes trocas.
– Assim como pretendo compartilhar com as pessoas o tanto que tenho aprendido sobre as nossas realizações, tenho certeza que também vou aprender muito com pessoas que estão envolvidas nessa movimentação em prol da nossa memória audiovisual. Essas trocas são sempre inspiradoras – finaliza a jornalista.
PALESTRANTES
- Marilice Daronco – Jornalista, doutora em comunicação e especialista em Cinema
- Luis Carlos Grassi – Professor, diretor e especialista em Cinema
- Rogerio Rocha Lobato – Professor e criador do Estúdio 21 da UFSM
- Nicola Chiarelli Garofallo – Jornalista e diretor da Divisão de Rádio e TV Educativa da UFSM de 1974 a 1977
- Denise Copetti – Produtora cultura e integrante da equipe do Projeto Acervo Joel Saldanha na TV OVO
- Gilvan Dockhorn – Professor, doutor em história e coordenador do Programa de Extensão Cineclube da Boca na UFSM
- Cristina Strohschoen dos Santos – Arquivista do Departamento de Arquivo Geral da UFSM e Mestra em Patrimônio Cultural
E parte desse grande acervo do Departamento de Arquivo Geral da UFSM também poderá ser conferida pela comunidade santa-mariense a partir deste fim de semana. A exposição UFSM: Território de Memórias estará na edição especial do Viva o Campus, no domingo, 4 de junho, e também no Espaço UFSM do Shopping Praça Nova até o dia 9 de junho.
A mostra exibirá documentos textuais, fotográficos, sonoros, audiovisuais e microfilmes preservados no arquivo histórico e que evidenciem a atuação das áreas de ensino, pesquisa e extensão na comunidade santa-mariense desde a a década de 1960, quando a Universidade passou a ser uma instituição responsável pela preservação, guarda, acesso e difusão desses materiais.